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Entrevista com a psicanalista Regina Navarro Lins

Por Pedro Henrique de Sousa


Regina Navarro Lins, psicanalista e escritora, trabalha há 46 anos em seu consultório particular. Ex-professora de Psicologia do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio, foi colunista de diversos jornais e apresentou programas de rádio. Tem um blog no portal Uol. Realiza palestras sobre relacionamento amoroso em várias cidades do país. É a especialista do programa Amor&Sexo, da TV Globo. Durante quatro anos foi colunista semanal e comentarista da Globonews. É autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e “Novas Formas de Amar”.

Instagram: @reginanavarrolins



Qual o título do livro que você vai lançar? Qual o tema que você aborda?

Regina Navarro Lins: O livro ainda não tem título. Vou lançar no final de outubro e, por isso, tenho que entregá-lo para a editora até o dia 10 de maio. Depois, de vê-lo totalmente pronto, escolho um título. É um livro sobre relacionamento amoroso, com vários capítulos e o texto é em forma de pensatas. Entre os temas abordados, estão: Amor, Paixão, Amor romântico, Casamento, Dependência emocional, Controle, possessividade e ciúme, Briga de casal, Fidelidade, A importância da individualidade, O sexo no casamento, Violência no casal, O fim de um relacionamento, Questões de gênero, Orientação sexual. A última parte do livro é sobre as novas formas de amar.

Como você define o amor romântico? As novas gerações entendem o lado romântico do relacionamento, quando dizem que estão apenas ficando? O amor romântico é compatível com relacionamentos extraconjugais?

RNL: O amor é uma construção social e em cada período da História se apresenta de uma forma. No amor romântico, que se generalizou no Ocidente, a partir de meados do século XX, você idealiza a pessoa amada e atribui a ela características de personalidade que na verdade não possui. Não se relaciona com a pessoa real, mas com a inventada de acordo com as próprias necessidades. Por isso, esse tipo de amor não resiste à convivência diária do casamento. Nela, a excessiva intimidade torna obrigatório enxergar o parceiro como ele é, e a idealização não tem mais como se sustentar.

Além disso, o amor romântico prega a ideia de que duas pessoas se completam, nada mais lhes faltando — haveria uma fusão, em que os dois se transformam num só. Entre seus ideais e expectativas estão os seguintes: quem ama não sente desejo sexual por mais ninguém; cada um terá todas as suas necessidades atendidas pelo outro; o amado é a única fonte de interesse do outro. O resultado dessas crenças na vida a dois é que, com frequência, um imagina o outro como na realidade ele não é, e espera dele coisas que ele não pode dar.

Ocorre que estamos no meio de um processo de profunda mudança das mentalidades. A busca da individualidade caracteriza a época em que vivemos. Preservar a própria individualidade começa a ser fundamental, e a ideia básica de fusão do amor romântico deixa de ser atraente porque vai no caminho inverso aos anseios contemporâneos.

O amor romântico está saindo de cena, levando com ele a sua principal característica: a exigência de exclusividade. Com isso, aumenta o número dos que aceitam viver sem parceiro estável recusando-se a se fechar numa vida a dois. Sem a crença de que é necessário encontrar alguém que lhe complete, surge a possibilidade de várias opções amorosas — relações livres, poliamor, amor a três, etc...

As novas gerações entendem o lado romântico do relacionamento, quando dizem que estão apenas ficando?

RNL: A mudança das mentalidades é lenta e gradual. No momento, estamos no meio de um profundo processo de mudança das mentalidades que se iniciou nos anos 1960. Acredito que daqui a algumas décadas menos pessoas vão desejar se fechar numa relação a dois e mais gente vai optar por ter relações com várias pessoas ao mesmo tempo. Podemos entender o “ficar” como antecessor do poliamor ou das relações livres. O fenômeno do “ficar”, uma espécie de namoro que se esgota num prazo curto, começou nos anos 80 entre os adolescentes, e consiste em trocas de carícias que vão dos beijos e abraços até alguma coisa mais, geralmente sem chegar ao ato sexual. O “ficar” dispensa um conhecimento prévio e qualquer tipo de continuidade. Tudo começa e termina na mesma noite ou dia, numa festa ou na praia, sem culpas ou explicações. O ficar é uma forma não compromissada de relacionamento afetivo, no qual não há o pressuposto de fidelidade/exclusividade.

Como ficam os relacionamentos no atual contexto de isolamento para companheiros que não moram na mesma casa? É possível amenizar o problema através de uma conversa erótica seguida de masturbação, (via telefone, vídeoconferência ou janela)?

RNL: Claro! A prefeitura de Nova York mesmo recomendou que as pessoas se masturbem para evitar a propagação do coronavírus na cidade. Já houve época em que se acreditou que a masturbação causava loucura, ataques epiléticos, reumatismo, acne, asma, idiotice, impotência, cegueira e, por mais incrível que pareça, crescimento de pelos na palma das mãos.

Qualquer atividade sexual que não levasse à procriação era considerada crime ou pecado.

Entretanto, a masturbação faz parte da sexualidade normal. Meninos e meninas começam a praticá-la na infância e fazem isso até a velhice. Independente da idade, representa valiosa contribuição para melhor conhecimento do próprio corpo e das emoções, e o mais importante, proporciona prazer. Por conta dos preconceitos encontramos pessoas culpadas e amedrontadas com seus próprios desejos e com a forma de realizá-los. Isso impede que a masturbação se torne a experiência libertadora e satisfatória que pode ser.

É possível uma pessoa se realizar através do sexo grupal?

RNV: A prática do sexo em grupo é frequentemente ignorada, ocultada e reprimida, ela é mais comum do que se imagina. A liberdade institucional que se alcançou em todo o mundo ocidental e em parte das outras regiões do planeta e a perda de influência das religiões sobre as populações mais civilizadas alterou bastante os costumes sexuais. É possível que daqui a algumas décadas predomine grande variedade de relacionamentos. No futuro as pessoas vão poder experimentar diferentes formas de estar juntas.

Quanto ao fato de alguém se realizar ou não no sexo grupal, vai depender das expectativas que se tenha. Eu responderia da mesma forma que respondo a alguma mulher que teve um sexo casual e depois se sente frustrada, alegando uma sensação de vazio. Isso tem muito mais a ver com uma expectativa não satisfeita do que com o sexo em si. O prazer sexual pode ter sido intenso, mas a pessoa esperava a continuidade da relação com um dos participantes.

Que conselho você dá para resolver o problema das pessoas que dependem de profissionais do sexo, quer seja por opção de vida ou por problema de saúde? Você aconselha abstinência total ou adoção de medidas preventivas?

RNL: Sugiro a essas pessoas aguardarem o fim da pandemia para ter relações presenciais. Enquanto isso a prática da masturbação pode contribuir.

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