Voz de Portugal
Entrevista com o Dr. Renê Gerdes
Atualizado: 29 de mai. de 2020
Por Pedro Henrique de Sousa
Graduado em Odontologia pela Universidade Federal Fluminense (1988). Foi responsável pela área de cirurgias e implantes na Clínica Odontológica Olympio Faissol Pinto, durante 13 anos (1990 - 2003) e cirurgião dentista do Hospital Universitário Antônio Pedro (1986 - 1990). É proprietário da Clínica Dr. Renê Gerdes Odontologia que fica em Ipanema há 17 anos.
A higiene é garantia da saúde bucal de uma pessoa? Qual o passo a passo para uma higiene completa?
Renê Gerdes: Sem dúvida, a higiene oral é fundamental para a saúde bucal. Assim, com escovação de modo certo e com a escova correta (macia) é possível deixá-la realizar o seu papel na escovação, de forma que o indivíduo não imponha força sobre a escova a fim de não causar abrasão nos dentes. Além disso, o dentifrício ideal que compõe o creme dental também deve ser não abrasivo e o uso do fio após as refeições é muito importante. Caso não seja possível, que pelo menos à noite, antes de deitar, realize-se o uso do fio dental. Ademais, alimentos saudáveis com pouca ingestão de açúcar influencia muito para a saúde bucal. Entretanto, caso o indivíduo coma carboidratos como pães, massas, biscoitos e doces, o ideal é ingeri-los após as refeições como uma sobremesa, uma vez que existe uma glicoproteína chamada mucina no processo de digestão, que protege os dentes. Todavia, se ingerir tais alimentos sem ter feito uma refeição antes, é necessário que após comê-los, escove-se os dentes imediatamente. Por fim, existem muitos outros processos ligados a uma boa saúde bucal, como por exemplo, o estresse, os hormônios, a genética, os maus hábitos, doenças variadas, como a síndrome de Sjögren que causa secura de boca, medicamentos psiquiátricos, etc...
No campo da odontologia estética, quais os trabalhos mais procurados? Alinhamento? Restauração? Esses procedimentos estão se tornando mais acessíveis a todos os bolsos?
RG: Então, não existe um procedimento isolado na odontologia que se ajuste a todas as pessoas tanto na estética, como nas funções, etc. Dessa forma, a boca não vem isolada do corpo, e o seu bom funcionamento está na relação harmônica dos dentes, das articulações, dos
músculos e dos tecidos moles como lábios e bochechas. Portanto, nós temos que escolher o tipo de tratamento, não com a boca isolada, mas com um olhar especial para o paciente - este que tem uma vida dinâmica com diferentes formas de viver. Assim, é necessário se atentar para a faixa etária, para a saúde, para a condição social, para a questão financeira, para os anseios e as paixões de cada indivíduo. Ou seja, temos que trabalhar na subjetividade. Diante disso, um mesmo problema clínico pode ser tratado de inúmeras formas dependendo do paciente em si. Logo, é importante escolher o melhor caminho a seguir para o paciente em questão. Em suma, a estética sempre está em jogo, no entanto, ela só vai durar com uma função perfeita. Isto é, a odontologia é às vezes confundida com um instituto de beleza, onde a estética é fundamental, mesmo que dure somente alguns dias, meses… Todavia, pensar desta maneira é um equívoco, uma vez que é a função que irá fazer tal estética perdurar - como dito anteriormente. Por fim, a odontologia de bom nível no Brasil e no mundo está muito distante da realidade social e financeira da maioria das pessoas.
Como você vê o problema da saúde bucal nas comunidades carentes das grandes cidades e na população sertaneja? Como democratizar o acesso dessas pessoas aos profissionais da área?
RG: Como em todas as áreas médicas, a odontologia (social) vem procurando melhorias muito mais na prevenção do que na ação em si. Tanto pelo custo, como por profissionais dispostos a ir para os confins do Brasil (geralmente profissionais recém-formados), que com o tempo tendem a procurar grandes centros para aprimorar-se e trabalhar com elementos de satisfação profissional. Entretanto, sempre há pessoas altruístas que vivem a profissão procurando ajudar o próximo com amor e compaixão. Eu amo o que eu faço e dentro disso, acredito que todo o ser humano tem o direito igualitário de ter assistência médica odontológica de qualidade e conheço alguns profissionais que dentro de suas clínicas, fazem esse papel humanitário. Para mim, o verdadeiro ser humano é responsável pelo bem-estar do seu próximo e nós profissionais devemos fazer a nossa parte.
Como os odontologistas podem proceder em casos emergenciais durante a quarentena?
RG: Todos os profissionais da área médica tem, por obrigação, preservar o paciente e se auto preservar com a melhor biossegurança possível. Assim, o básico é autoclavar os instrumentos, além do uso de máscaras, luvas e higienizar os consultórios com produtos desinfetantes desde sempre. Entretanto, com a pandemia deve-se aumentar esta biossegurança, ou seja, I) atender menor quantidade de pacientes (espaçando os horários para não ocorrer aglomeração); II) a sala de espera não poderá ser usada como sala de espera, uma vez que só um paciente poderá esperar; III) colocar álcool gel ao alcance logo na entrada para o paciente se higienizar; IV) deixar os sapatos na entrada da clínica; V) utilizar pijama cirúrgico para não usar roupas que vieram de fora da clínica; vi) colocar aparelho que ioniza o ar a fim de esterilizar o ambiente contra vírus, bactérias, fungos, ácaros e odores para um ambiente mais protegido; e VII) disponibilizar sapatilhas que envolvam o sapato, caso o paciente não queira retirá-los.
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