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Brasil e Coronavírus

Artigo de Gustavo Studart


A pandemia que assolou o mundo no começo de 2020 chegou tardiamente em terras brasileiras, mas assim como em outros países, deixou sua marca na economia.

Quando a gente lê os relatórios mais otimistas de casas renomadas como JP Morgan e Goldman Sachs, o cenário é assustador: Queda do PIB na casa de 5%, podendo encostar nos 10% se a condução do problema não for corretamente direcionada.

Em qualquer das perspectivas, o tombo é grande, sobretudo para uma economia anêmica e que vinha num processo paulatino de reconstituição. E a estratégia de austeridade fiscal prometida pela pasta de economia, sofreu um revés e tanto, com a necessidade de um pacote anticrise que deve consumir cerca de R$ 1 trilhão, aumentando significativamente o rombo das contas públicas e levando a dívida pública para níveis perigosos, no momento em que se aproxima dos 100% do PIB.

Mas isso, no meu ver, não é preocupação para agora, por que o custo dessa dívida está controlado, em função da trajetória de queda da taxa Selic. O grande desafio no momento é colocar o Brasil nos trilhos novamente, na rota da prosperidade e da geração de empregos. Mas para isso acontecer, primeiro precisamos que a crise sanitária seja debelada e as pessoas possam se sentir seguras para voltar as suas atividades normais.

Depois, a pergunta que fica é quem vai assumir o protagonismo dos investimentos estruturais de que o Brasil tanto precisa. O Paulo Guedes sinaliza para a iniciativa privada, mas alguns economistas de renome defendem que isso só acontecerá se o governo tomar a dianteira, não só investindo, mas mostrando sua capacidade de aprovação das reformas pendentes. As duas principais, no meu ver, são a tributária e a política.

Suas aprovações seriam sinais claros de que há, mais do que nunca, um senso de urgência no combate à crise e a proposição de colocar o país no caminho certo. E de queda, o Brasil estaria preparado para uma possível pressão inflacionária nos EUA, cujo efeito colateral produziria a valorização dos commodities, que diga-se de passagem, estão em níveis historicamente baixos. Se podemos afirmar que a bolsa serve como termômetro para a economia, já que costuma se antecipar aos fatos, podemos também nos animar com a recente valorização de quase 50% frente as fortes quedas de fevereiro e março.

É bem verdade que a queda consistente da Selic tem pressionado a bolsa, que experimentou o maior ingresso de investidores pessoas físicas de sua história: Foram registrados cerca de 550 mil novos entrantes, comprando papéis dos mais variados e contrariando a visão pessimista (ou realista) dos principais gestores de renda variável. Se essa euforia vai se perenizar, só o tempo e as ações do governo vão dizer.

Por último, como um otimista convicto, tendo sempre à acreditar que esse senso de urgência que o Coronavirus escancarou na economia brasileira, sirva de lição para que as medidas necessárias sejam tomadas, preparando o Brasil para surfar a próxima onda de crescimento, em posição de vantagem.

Temos que lembrar que o Brasil é um país tropical com 210 milhões de habitantes, riquíssimo em recursos naturais, com enorme potencial de consumo interno e forte exportador de commodities. Difícil acreditar que o Brasil, com isso tudo, no longo prazo, não possa dar certo.

Gustavo Studart, administrador pela PUC-Rio, com especialização em finanças.

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